Por: Bruna Rangel e Luana Eugênio
Neste resumo trataremos sobre a microbiota intestinal das crianças desde o nascimento até os dois anos de idade, abordando as vias de parto, bem como, colostro, amamentação e introdução alimentar.
Este trabalho teve como objetivo mostrar as diferenças da microbiota do recém nascido de parto normal e de parto cesárea e o impacto da amamentação na microbiota intestinal.
O trato gastrintestinal humano é considerado um ambiente estéril até o momento do nascimento, quando ocorre a colonização inicial de microrganismos no intestino. Esse processo de desenvolvimento da microbiota é gradual e é influenciado por uma combinação de fatores internos e externos, incluindo o método de parto, idade, padrão alimentar e estilo de vida da mãe. Esses fatores são importantes para a formação de uma microbiota única em cada indivíduo, sendo que desde o nascimento, ela sofre vários desenvolvimentos significativos e consideráveis, conectados à via de parto, amamentação e introdução alimentar.
Sobre as vias de parto, é sabido que o bebê nascido via parto vaginal apresenta colonização inicial do tubo digestivo por bactérias da microbiota vaginal e fecal de sua mãe.
De acordo com Oliveira et al. (2022): “Estudos relatam que os neonatos nascidos por via vaginal possuem maior quantidade e melhor qualidade de bactérias benéficas”. Além disso, o parto normal exerce maior influência na formação inicial do sistema imunológico do bebê. Bebês nascidos por parto normal apresentam uma colonização inicial da pele, intestino e cavidades orais e nasofaríngea por bactérias do tipo Lactobacillus spp, semelhantes à microbiota vaginal materna (DOMINGUEZ-BELLO et al., 2010).
Em contraste, bebês nascidos por cesárea são colonizados por bactérias do ambiente, ou seja, microrganismos ambientais e hospitalares comuns, como Staphylococcus, Streptococcus ou Propionibacteria (BÄCKHED et al., 2015; DOMINGUEZ-BELLO et al., 2016). Isso evidencia que a fase inicial de colonização desempenha um papel crucial, competitivamente falando, na formação das futuras populações bacterianas associadas ao tipo de parto.
Além disso, foi comprovado que bebês nascidos por cesárea experimentam um atraso na colonização intestinal por grupos bacterianos específicos adquiridos externamente. Dessa forma, essa via de parto contribui para o desenvolvimento de doenças inflamatórias, imunes, metabólicas e transtornos mentais.
Portanto, conclui-se que em relação à microbiota intestinal, o parto via vaginal é o ideal, tendo em vista a redução de riscos no desenvolvimento de distúrbios inflamatórios, imunológicos e metabólicos.
No que diz respeito à amamentação, primeiramente ressalta-se que a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018) destaca a importância da amamentação exclusiva até os seis meses de idade, devendo ser continuada, no mínimo, até os 24 meses de idade. Essa recomendação se dá devido ao papel crucial que o leite materno desempenha nesse ecossistema, tanto de configuração quanto da sua função inicial, uma vez que proporciona não apenas macro e micronutrientes, mas também compostos bioativos com propriedades imunomoduladoras e antimicrobianas. Essa fase é categórica para a maturação da microbiota intestinal. (REBELO, 2022).
A microbiota intestinal de recém-nascidos alimentados exclusivamente com leite materno abriga várias espécies de microrganismos, com destaque para os grupos bacterianos Bacteroidetes e Firmicutes (SANTOS et al., 2020). A ausência do aleitamento materno exclusivo ou o desmame precoce pode acarretar prejuízos na formação da microbiota intestinal, contribuindo para doenças alérgicas, diarreias, obstipação e gastroenterites (SANTOS et al., 2023).
Dessa forma, uma vez que a microbiota começa a se desenvolver no nascimento, com os microrganismos que são derivados da mãe e do meio ambiente, o que se estende até a vida adulta, o tipo de parto, normal ou cesariana, e a amamentação são os principais fatores que influenciam na microbiota infantil. Ressalta-se que, pelo fato do leite materno conter vitaminas, minerais e oligossacarídeos que funcionam como prebióticos, seus efeitos se estendem, inclusive, após o desmame.
Portanto, conclui-se que o parto normal seguido pelo aleitamento materno é a abordagem mais simples, eficaz e preventiva para se promover uma saúde intestinal e uma boa microbiota saudável e equilibrada.
Referências bibliográficas
BÄCKHED, F. et al. Dynamics and Stabilization of the Human Gut Microbiome during the First Year of Life. Cell Host & Microbe, v. 17, n. 5, p. 690–703, maio 2015. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25974306/. Acesso em: 09/11/2023.
DOMINGUEZ-BELLO, M. G. et al. Delivery mode shapes the acquisition and structure of the initial microbiota across multiple body habitats in newborns. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 107, n. 26, p. 11971–5, 2010. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20566857/. Acesso em 09/11/2023.
DOS SANTOS, J. M.; COELHO, T. A. A.; SILVA, R. F. G. Fatores que interferem na formação do hábito alimentar saudável na infância: uma revisão bibliográfica. Revista Científica do UBM, p. 80–94, 3 jan. 2023. Disponível em: https://revista.ubm.br/index.php/revistacientifica/article/view/1422. Acesso em: 09/11/2023.
OLIVEIRA, A. et al. A INFLUÊNCIA DO TIPO DE PARTO EM RELAÇÃO A MICROBIOTA INTESTINAL DO RECÉM NASCIDO. ANAIS DO FÓRUM DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO UNIFUNEC, v. 13, n. 13, 2022. Disponível em: https://seer.unifunec.edu.br/index.php/forum/article/view/5744. Acesso em: 09/11/2023.
REBELO, C. B. P. Influência da alimentação na microbiota intestinal nos primeiros dois anos de vida.2022. Tese de Licenciatura. Faculdade de Ciências da Nutrição e alimentação da Universidade do Porto. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/144176/2/583607.pdf. Acesso em: 09/11/2023.
SANTOS, M. P. M. DA C.; PEREIRA, T. G.; FREITAS, M. T. DE S. A influência do leite materno na microbiota intestinal do recém-nascido / The influence of breast milk on the intestinal microbiot of the newborn. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 93400–93411, 1 dez. 2020. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/20750. Acesso em: 09/11/2023.

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